Saguão

Tediante, era nessa misera palavra que se resumia meu dia. Deitada na minha cama, comtemplando o teto, tive uma iluminação. Não foi a cura do câncer, ou da aids, ou até mesmo uma ideia de escrever sobre vampiros que brilham no sol (What the fuck?). O que me ocorreu foi que a nobre arte do ócio realmente não era a minha praia.

Sério, eu sentia a energia do movimento formigando na minha pele, me instigando a agir, a fazer algo. Então, decidida a dar uma volta pela Academia, tomei uma ducha rápida, me vesti confortavelmente. Olhei-me no espelho, sorri para o meu reflexo e saí do quarto linda e bela.

Já no saguão do edifício, acidentalmente esbarrei em alguém, e acabei derrubando o livro que a pessoa carregava.

- Puts, me desculpe, realmente. – Falei, abaixando para pegar o livro. Quando levantei o rosto, vi uma garota loira e de olhos azuis olhando para mim. Seu rosto me era familiar. – Ah, oi. Sou Nellie Vorlemont. – Apresentei-me, devolvendo-lhe o livro.

I knew you were trouble when you walked in

Eu havia acabado de terminar de ler o livro que havia pegado há alguns dias, por isso estava totalmente entediada. Na TV, não passava nada de interessante. Na internet, nenhuma novidade. E todas as pessoas que eu conhecia estavam ocupadas. Por isso, decidi ir até a biblioteca. Tinha que entregar o livro de qualquer jeito, então, aproveitaria para pegar outro.

Devolvi o livro com antecedência, como sempre, e acabei pegando o meu livro favorito, que eu já havia lido milhões de vezes: Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare. Eu adorava aquela comédia, desde a 6ª série, quando minha professora de Inglês dessa época (a senhorita Spears) pedira para que lêssemos uma adaptação do livro e fizéssemos um trabalho sobre ele.

Quando voltava da biblioteca, folheando o livro distraidamente, sem nem prestar atenção no caminho, acabei esbarrando com uma garota no saguão do Edifício, resultando na derrubada do meu livro.

– Puts, me desculpe, realmente. – disse a garota, abaixando-se para pegar o livro. Seus cabelos eram castanhos e, quando ela levantou o rosto pude ver que ele me era familiar.

– Não tem problema. Eu é que me desculpo, estava tão distraída com o livro que acabei me esbarrando em você – eu disse, ligeiramente corada.

– Ah, oi. Sou Nellie Vorlemont. – apresentou-se a garota, enquanto estendia a mão com o livro para mim.

– Prazer, Nellie, meu nome é Nicole Collins. – eu disse, apanhando o livro. – Mas pode me chamar só de Nikki.

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Realmente eu era um desastre, isso sempre ocorria comigo. Esbarrar nas pessoas, tropeçar, derrubar coisas. Alguns amigos até me chamavam de Katrina, alusão ao furacão que causou um estrago e tanto no nosso país.

– Não tem problema. Eu é que me desculpo, estava tão distraída com o livro que acabei me esbarrando em você. – A garota me disse enquanto eu abaixava e pegava o livro.

– Prazer, Nellie, meu nome é Nicole Collins. – eu disse, apanhando o livro. – Mas pode me chamar só de Nikki. – Disse ela após eu me apresentar. Ela estava um pouco corada e sorria simpaticamente.

- Ok, Nikki. – Sorri de volta. Ela era uma daquelas pessoas com uma carinha tão fofinha que você não conseguia não ser simpático. De repente uma luz se acendeu na minha cabeça, quando notei seu sobrenome.

- Ah, você é a irmã da Isabelle e da Savannah. – Falei. Apesar de serem irmãs, Nikki não tinha jeito de ser que nem as outras duas. Parecia ser mais tímida e reservada, e não uma queen bitch ou uma patricinha. É, acho que vou me dar bem com ela.

I knew you were trouble when you walked in

– Ok, Nikki. – disse Nellie, sorrindo de volta pra mim. – Ah, você é a irmã da Isabelle e da Savannah. – disse a morena. O sorriso se desfez e tive que me controlar muito para não revirar os olhos. Nellie parecia muito legal e isso seria muita grosseria, já que ela estava sendo tão simpática comigo.

– Como notou? – eu perguntei um pouco desconfortável. Eu odiava ser lembrada apenas como a irmã mais velha da Queen B. ou como a irmã nerd da Isabelle. Um monte de gente me julgava, achando que eu era uma patricinha ou uma bitch, sendo que eu não me parecia em nada com minhas irmãs. – Foi o sobrenome, né? Quer dizer, eu só lembro um pouco a Sav e não pareço com a Izzy nem de longe. – eu tentei rir. – E também não quero que pense que eu sou parecida com elas, porque somos totalmente diferentes. – eu disse, dando risadas nervosas. Tudo bem, eu admito, eu estava ficando um pouquinho paranóica. Nellie me olhou como se eu de repente tivesse adquirido alguma doença tropical rara. Percebendo isso, tentei consertar as coisas. – Desculpe, eu só... não gosto muito de ser comparada com as minhas irmãs mais novas. Sabe, eu sou a nerd da família, elas pegaram a beleza e o carisma.– eu disse, revirando os olhos, como se aquilo não significasse nada. Quer dizer, não que já tivesse admitido isso para alguém, mas no fundo significava muito.

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